por Ibone Olza, do seu livro “Nascer por cesariana?”
Quando o Dr. Caldeyro-Barcia (Uruguay 1921-1996), impulsionador da monitorização eletrônica fetal, disse em 1980 num congresso médico internacional: «Eu desenvolvi a monitorização fetal para ajudar as poucas mulheres que têm dificuldades durante o parto, e não para botar todas as mulheres de parto em dificuldades», a maioria dos assistentes comentou que o professor delirava ao criticar o uso abusivo do monitor fetal.
Nos anos 70 do século passado começa uma «tecnificação» e «medicalização» crescente na atenção ao parto nos hospitais, que ignora e desdenha a fisiologia de uma mulher em processo de parto, suplantando o sutil e complexo processo corporal do parto e do nascimento, por uma série de manipulações médico-cirúrgicas que impedem o vínculo materno-infantil e frustram a lactância materna em geral. Hoje em dia, já sabemos a importância que tem este vínculo imediato ao nascer, na saúde futura desse recém-nascido.
Já, desde o início desta «medicalização» do parto, aparecem profissionais médicos que questionam e que refletem sobre a fisiologia do parto e como respeitá-la. Em 1974, F. Leboyer edita na França Pour une naissance sans violence. Em 1979, M. Odent publica The genesis of ecological man sua experiência numa maternidade pú
Prólogo Enrique Lebrero
blica francesa de «partos respeitados», com o uso da água quente para facilitar a dilatação.
Nos anos 80, chega aos organismos internacionais, a preocupação com o crescente uso da tecnologia na atenção ao parto, e o aumento no número de cesarianas. A OMS aprova ,em 1985, as Recomendações sobre os direitos da mulher grávida e o bebê de Fortaleza (Brasil), recomendações que, além de enumerar esses direitos, instavam expressamente aos ministérios da saúde, revisar as tecnologias utilizadas na atenção ao parto, bem como facilitar a participação e a decisão da mulher em todo o processo do mesmo. Em 1989 edita-se a Declaração Conjunta da OMS-UNICEF para a Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno, com as implicações que supõe a não separação mãe-bebê no momento do nascimento. Mas é em 1996 que, de maneira inequívoca, a OMS publica Assistência ao Parto. Normal: um guia prático que determina, com critérios de evidência científica, a prática clínica internacionalmente aceita na área da atenção ao parto e nascimento.
Dra. Ibone Olza
Psiquiatra perinatal