por Ibone Olza, do seu livro “Nascer por cesariana?”
Os bebês nascidos por cesariana podem ter dificuldades inerentes ao seu nascimento. Alguns passam as primeiras semanas muito adormecidos, quase sempre por terem vindo ao mundo duas ou três semanas antes de tempo. Outros choram desconsoladamente.
A maioria das dificuldades que encontram muitas mães para amamentar depois da cesariana não são devidas à intervenção, senão a toda uma série de crenças errôneas e/ou práticas inadequadas no hospital que, geralmente, motivam que a lactância termine antes do que a mãe desejava.
Aos bebês nascidos por cesariana geralmente oferecem a mamadeira nas primeiras horas de vida para que a mãe descanse. Esta suposta ‘ajuda’ produz dois efeitos muito negativos: por um lado, que o bebê não tome o peito faz que a subida do leite seja mais tardia, e a produção, menor; mas, além disso, o movimento necessário para chupar o bico da mamadeira é muito diferente do necessário para tomar o peito.
Uma investigação assinalou que as mães que davam à luz por cesariana urgente apresentavam níveis mais baixos de oxitocina e prolactina, os hormônios da amamentação, nas primeiras quarenta e oito horas do pós-parto. Outros autores também concluíram que as mães que dão à luz por cesariana apresentam um risco três vezes maior de abandonar a amamentação no primeiro mês. No entanto, as diferenças na duração da amamentação entre as mães que deram à luz vaginalmente e as que deram por cesariana, desaparecem depois do primeiro mês. Portanto, resulta evidente que depois de uma cesariana as mães necessitam um apoio especial e individualizado e um seguimento estreito no início da lactância.
O peso do bebê é outro fator que geralmente dá dor de cabeça e vai abalando a confiança de muitas mães com relação a sua capacidade de amamentar. No entanto, as curvas de peso mais utilizadas estavam desenhadas a partir de crianças criadas com amamentação artificial e, precisamente agora, sabe-se que a amamentação materna é uma boa ferramenta para prevenir a obesidade infantil. Por isso, se verdadeiramente o peso não vai bem (se o bebê não ganha ou perde peso, coisa bastante rara), antes de optar pela amamentação artificial é preciso acudir a um bom pediatra, que verdadeiramente apoie a lactância e que detecte onde está o problema em vez de tratá-lo suprimindo a amamentação.
O outro aspecto importante na lactância é o sono do bebê. Na realidade, são muito poucos os bebês que dormem mais de quatro ou cinco horas seguidas de maneira espontânea. O normal é que durmam a intervalos de uma, duas ou três horas e, quando se acordam ou antes de dormir, reclamem o peito. Como o hormônio da lactância se produz em maior quantidade pela noite, muitos bebês necessitam mamar de maneira quase continuada no fim do dia: alguns chegam a fazer uma mamada praticamente ininterrupta de nove às doze da noite. Isto assegura que ao amanhecer suas mães tenham o peito transbordando de leite. A maneira mais simples de iniciar a amamentação materna e de mantê-la, é aproveitar os momentos de sono do bebê para dormir com ele/ela e, principalmente dormir juntos pela noite.
Dra. Ibone Olza
Psiquiatra perinatal