Por Kerstin Uvnäs Moberg
O estímulo de sucção e subsequente liberação de oxitocina não conduz apenas à produção e ejeção do leite. A psicologia maternal e o comportamento também são sujeitos a muitas mudanças durante o período de lactação com a finalidade de facilitar a adaptação à maternidade. A mãe pode reagir de maneira exagerada a determinados tipos de estresse físico quando percebe que é perigoso para o recém-nascido. Por outro lado, as reações maternas a outros tipos de estresse e seu nível de ‘estresse base’ são reduzidos. Isso ocorre porque a mãe deve enfocar sua atenção ao recém-nascido e direcionar sua energia à produção de leite. A oxitocina liberada como resposta à sucção participa no controle de algumas dessas adaptações e está envolvida nos efeitos antiestresse.
Alguns dos efeitos antiestresse em animais lactantes:
- Calma.
- Atividade física reduzida.
- Reação reduzida a certos tipos de estresse.
- Atividade reduzida do sistema nervoso simpático e no eixo HPA.
- Diminuição da pressão arterial.
Diversos estudos mostraram que:
- A redução da pressão arterial acontece em resposta à sucção em cada mamada (Jonas, Nissen, Ransjo-Arvidson, Wiklund, et al., 2008; Nissen et al. 1996).
- Os níveis de cortisol diminuem como resposta à sucção em cada mamada (Handlin et al., 2009: Nissen et al., 1996).
- Os níveis de ACTH diminuem como resposta à sucção em cada mamada (Handlin et al., 2009).
- Relação inversa entre oxitocina e ACTH: A diminuição dos níveis de ACTH é maior quanto mais longo é o período de aleitamento (Handlin et al., 2009).
- Os níveis de ACTH são inversamente proporcionais aos níveis de oxitocina (Handlin et al., 2009).
- A pressão sanguínea e os níveis de cortisol diminuem em resposta ao contato pele com pele antes do aleitamento (Jonas, Nissen, Ransjo-Arvidson, Wklund et al, 2008).
- A diminuição da pressão sanguínea e dos níveis de cortisol como resposta ao contato pele com pele estão associados um com o outro.
- O toque ou o contato pele com pele resultam em uma liberação de oxitocina.
- A diminuição do tônus nervoso simpático também envolve mais facilidade ao reflexo de ejeção do leite.
As mulheres lactantes são repetidamente expostas à liberação de oxitocina em resposta à sucção e ao toque, enquanto as mães que usam mamadeira são expostas apenas ao toque e ao contato pele com pele. Além disso, o aleitamento materno parece estar associado a um maior padrão de efeitos antiestresse mediados pela oxitocina.
O aleitamento materno está relacionado a um aumento da modulação parassimpática da função cardíaca. Também está associado a uma frequência cardíaca mais baixa comparado à alimentação com mamadeira, que pode ser devido a um aumento do tônus parassimpático e a uma diminuição do tônus simpático.
O nível de catecolaminas na circulação é menor nas mulheres que amamentam, provavelmente como consequência da atividade simpático-adrenal reduzida (Altemus et al., 2001). Todos esses efeitos estão ligados à liberação frequente de oxitocina em mulheres que amamentam.
Outro sinal dos efeitos antiestresse duradouros da amamentação são as descobertas de que mulheres que deram à luz e amamentaram têm menos chances de desenvolver, muitos anos depois, vários tipos de doenças relacionadas ao estresse, como por exemplo, doença cardiovascular. O risco de hipertensão, derrame, infarto cardíaco e diabetes tipo 2 é reduzido de maneira “dependente da dose” em mulheres que amamentaram. Quanto mais filhos uma mulher dá à luz e quanto mais ela amamenta, mais forte é o efeito preventivo.
Trecho de “Oxitocina, o Guia Biológico da Maternidade”.
Kerstyn Uvnäs Moberg
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